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Neste livro, a antropóloga Rita Segato, uma das mais respeitadas pensadoras da atualidade, analisa a lógica da violência de gênero, apresentando-a como parte integrante das engrenagens simbólicas que sustentam as relações de poder na sociedade. Em uma abordagem que combina rigor acadêmico e urgência política, Segato convida a uma leitura que ultrapassa as análises superficiais que tentam explicar atos violentos como desvio individual ou patologia. Em vez disso, a autora demonstra como a violência está intrinsecamente ligada à reprodução das hierarquias de gênero e à manutenção de uma ordem social desigual.
Um dos conceitos centrais da obra – que se apoia nos campos da antropologia, da psicanálise e dos direitos humanos – é o entendimento do estupro como “mandato”, um mecanismo estruturante do patriarcado que opera para reafirmar o controle sobre os corpos femininos. A violência se impõe, assim, como um elemento sistemático, essencial para preservar a economia simbólica de poder, que conta com a cumplicidade de instituições, normas culturais e práticas cotidianas que naturalizam e perpetuam o domínio masculino.
Já publicado em diversos países, onde se tornou referência, o livro defende que somente a partir de uma reforma da intimidade será possível desmantelar a escalada da violência, desde suas manifestações domésticas até os níveis globais. Para isso, Rita Segato aponta a importância do papel da comunicação como motor de mudança das relações sociais pela sua eficácia simbólica, e dos direitos humanos, que ao estabelecer normas morais para toda a sociedade e dar nome às queixas e aos desejos coletivos cumprem um papel pedagógico e transformador.