Acaso e destino são os temas de Tempestades comuns, o novo romance de William Boyd. Mais que um thriller de ritmo hitchcockiano, trata-se de um livro sobre a fragilidade dos alicerces que dão sentido à vida de um indivíduo – e constituem a sua própria identidade. Com um ritmo ágil e uma trama surpreendente, já nas primeiras páginas o leitor é perturbadoramente envolvido pela história de Adam Kindred, um homem comum que vê sua existência ser virada de pernas para o ar após um encontro fortuito com um desconhecido. Por estar no lugar errado na hora errada, sua vida se transforma num pesadelo sem fim. Recém-radicado em Londres, após o colapso de seu casamento e uma crise profissional, o climatologista Kindred sai de uma entrevista para um emprego acadêmico no Imperial College e decide almoçar num restaurante italiano. Lá entabula uma conversa despretensiosa com o imunologista Philip Wang, que esquece sua pasta ao ir embora. Quando vai até seu apartamento para devolver a pasta, Kindred só chega a tempo de ver Wang agonizante, com uma faca cravada no peito. Em pânico, ele foge – e o horror começa. A partir daí sua rotina aparentemente previsível é subvertida de forma radical. As calamidades se sucedem em efeito-dominó: suspeito do assassinato, ele passa a ser perseguido não somente pela polícia, mas também por um matador profissional. Atropelado pelos acontecimentos, em sua fuga Kindred deixa tudo para trás – casa, amigos, reputação, passaporte, cartões de crédito, celular, até o próprio nome. Torna-se, em suma, uma não-pessoa, e como tal se junta ao exército de deserdados que habita o submundo da capital inglesa, de Chelsea ao East End. Enquanto tenta decifrar as forças ocultas que o atingiram de forma tão drástica, Kindred encontra gente de toda espécie, e a cada encontro se reinventa um pouco mais: o anonimato na grande cidade é seu único trunfo. Não se trata, portanto, de um thriller comum: William Boyd levanta questões sérias sobre identidade e responsabilidade social, sobre a corrupção das grandes corporações e os segredos e mentiras que se ocultam no tecido social de toda grande cidade. Nascido em Gana e criado na Nigéria, William Boyd faz parte da brilhante geração de escritores britânicos revelados nos anos 80, como Ian McEwan e Martin Amis. Lançou seu primeiro romance, A good man in Africa, em 1981. De sua autoria, a editora Rocco também lançou As aventuras de um coração humano, entre outros títulos. O autor já tinha enveredado pelo gênero em Fuga, uma história de espionagem de fundo histórico, mas é neste novo livro que ele dá uma nova dimensão à ficção de suspense.